O advogado Márcio Coutinho frisa que a democracia direta tem ganhado cada vez mais relevância no cenário político, especialmente como forma de aproximar o cidadão das decisões que impactam diretamente seu cotidiano. Entre os instrumentos mais conhecidos estão os plebiscitos e referendos, que possibilitam à população se manifestar sobre temas específicos. No contexto municipal e estadual, essas ferramentas representam uma revolução na forma de fazer política.
Como funcionam os plebiscitos e referendos no Brasil?
Plebiscitos e referendos são consultas populares previstas na Constituição Federal e regulamentadas por leis específicas. O plebiscito é convocado antes da decisão legislativa, enquanto o referendo ocorre após a criação da norma, para ratificá-la ou rejeitá-la. Ambos requerem autorização do Poder Legislativo. Em nível municipal e estadual, essas ferramentas são menos utilizadas, embora previstas nas constituições estaduais e leis orgânicas municipais.
Márcio Coutinho explica que, apesar dos desafios legais e operacionais, o uso de plebiscitos locais vem crescendo em alguns estados e municípios, especialmente em temas de grande repercussão, como mudanças de zoneamento urbano, instalação de obras públicas ou decisões sobre políticas ambientais. Esses processos exigem ampla divulgação, organização logística e neutralidade institucional para garantir a efetividade da consulta.
Quais os requisitos legais para sua implementação local?
A realização de plebiscitos e referendos em nível local exige previsão legal nas leis orgânicas dos municípios ou nas constituições estaduais. Além disso, é necessário que o Legislativo local aprove a proposta de consulta, definindo sua abrangência e regras específicas. Outro fator importante é o apoio do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), responsável por organizar e fiscalizar o processo, garantindo a lisura da votação. Sem esses requisitos, a consulta perde validade jurídica e caráter vinculativo.
Ademais, é fundamental que a questão submetida à população seja clara, objetiva e relevante para o interesse público. Márcio Coutinho destaca que a manipulação de informações, a formulação tendenciosa da pergunta ou a ausência de debate prévio podem comprometer a legitimidade do processo. Assim, a preparação de uma consulta popular exige responsabilidade técnica e política, além de ampla mobilização da sociedade civil para garantir que o voto reflita a vontade popular de forma consciente.

Qual o impacto desses instrumentos na formulação de políticas públicas?
Ao envolver diretamente os cidadãos nas decisões, os plebiscitos e referendos fortalecem o senso de pertencimento e estimulam o engajamento cívico. Em vez de delegar completamente o poder às instituições representativas, a democracia direta permite que a população exerça sua soberania de maneira mais ativa e concreta. Isso pode resultar em políticas públicas mais alinhadas às reais necessidades da comunidade, além de aumentar a confiança nas instituições.
Experiências bem-sucedidas mostram que, quando há participação efetiva da sociedade, as políticas se tornam mais sustentáveis e legítimas. A democracia direta, nesse sentido, não substitui a representativa, mas a complementa, criando um sistema mais equilibrado e responsivo. Márcio Coutinho ressalta que, a longo prazo, essa prática pode transformar a cultura política brasileira, tornando os cidadãos protagonistas de sua própria história e reduzindo a distância entre eleitores e eleitos.
O futuro da democracia está na mão do cidadão
A ampliação do uso de plebiscitos e referendos em níveis municipais e estaduais representa uma oportunidade valiosa para fortalecer a democracia no Brasil. Ao permitir que a população participe diretamente das decisões, esses instrumentos promovem maior legitimidade nas políticas públicas e incentivam o exercício pleno da cidadania. Apesar dos desafios legais e operacionais, seu potencial transformador é evidente. Investir em educação política, transparência e estrutura institucional é essencial para a democracia.
Autor: Kalazah Eleri