O Brasil enfrenta um momento crucial de transformação em sua administração pública. Com apenas 31,8% dos brasileiros satisfeitos com os serviços administrativos, em contraste com 63% nos países da OCDE, a necessidade de modernizar a gestão estatal é evidente. A reforma administrativa surge como uma solução para elevar a qualidade dos serviços e atender melhor às demandas da população.
A implementação de grandes reformas no Brasil, um país de proporções continentais e complexidades diversas, enfrenta desafios significativos. A reforma tributária, por exemplo, unificou tributos e simplificou o sistema, enquanto a reforma da previdência teve avanços limitados no setor público devido à autonomia de estados e municípios para regulamentações suas regras.
A Constituição de 1988 distribuiu um capítulo dedicado à administração pública, introduzindo o conceito de mérito e o concurso público como regra de acesso ao serviço público. No entanto, a regulamentação de aspectos como cargas de direção, vínculos temporários e organização de carreiras foi deixada para cada ente federativo, resultando em disparidades e desafios judiciais.
A falta de regulamentação uniforme para a contratação de temporários, por exemplo, levou a precariedades em alguns municípios e estados, gerando disputas judiciais. Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Direito Público revelou 258 acórdãos sobre o tema em apenas um ano, destacando a necessidade de uma abordagem mais coesa.
A modernização da administração pública brasileira é limitada pela fragmentação das regulamentações. Uma reforma que expande o sistema de mérito para cargas comissionadas, por exemplo, afetaria apenas a União, que representa 8,4% do total de servidores, enquanto os municípios, com 62,7%, precisariam de regulamentações próprias.
A discussão de uma emenda constitucional, como a PEC 32/20, é vista como um caminho para estabelecer normas gerais para a gestão de pessoal. Essa abordagem permitiria a implementação de regras nacionais para temporários, comissionados e desligados por desempenho, trazendo ganhos imediatos.
Alternativamente, a promulgação de leis nacionais vinculando União, estados e municípios poderia enfrentar desafios constitucionais devido à autonomia federativa. A recente Lei de normas gerais de concursos públicos exemplifica os riscos e a necessidade de clareza jurídica nesse caminho.
Diante desse cenário, o debate constitucional sobre a reforma administrativa é essencial. Estabelecer normas gerais, seja pela PEC 32 ou outra proposta, é fundamental para garantir mudanças efetivas e uniformes em todo o país, promovendo uma administração pública mais eficiente e moderna.